Formação Santana - Chapada do Araripe


A Formação Santana é localizada na Chapada do Araripe, área que abrange o Ceará, o Piauí e o Pernambuco. Na estratigrafia, uma formação geológica é um conjunto de rochas ou minerais que tem características próprias, em relação à sua composição, idade, origem ou outras propriedades similares. Essa formação encontra-se entre outras duas, a Formação Arajara e a Formação Rio Batateira, e data do Cretáceo Inferior.

Estratigrafia da Chapada do Araripe






Chapada do Araripe e área exposta da Formação Santana

A formação é composta por três membros: Crato (inferior), composto por calcarenitos, lamitos algaáceos, folhelhos e calcários laminados; Ipubi (intermediário), composto por evaporitos, folhelhos escuros e calcários; e Romualdo (superior), composto por arenitos, folhelhos, calcários e margas com concreções calcárias contendo fósseis.
Durante o período Cretáceo, ocorreu. a divisão do continente Gondwana, formando um grande mar entre esses dois novos continentes em processo de separação. Devido à isso, formaram-se diversos lagos e lagoas, onde hoje são o Norte e Nordeste do Brasil e, consequentemente, a Chapada do Araripe. Um verdadeiro alagamento de proporções continentais. Essas mudanças do ambiente se manifestaram na fauna local, como é possível observar nas espécies animais fossilizadas que são encontrados nas escavações realizadas na formação.

Emulação da Vista Espacial da Separação do Continente Gondwana no final do Cretáceo Inferior

Os fósseis mais abundantes da formação são fósseis de peixes, que são encontrados em nódulos calcários, facilmente diferenciados do resto da formação rochosa. Dentre esses peixes encontrados, o mais comum é o Vinctifer comptoni, um peixe alongado, de até 50 centímetros de comprimento, com a cabeça em forma de agulha. Outros gêneros também são comuns, como o Rhacolepis, o Cladocyclus e o terrível Calamopleurus

Fósseil de Vinctifer comptoni
Fóssil de Rhacolepis
Fóssil de Calamopleurus

Outro grupo comumente encontrado na formação são os pterossauros, répteis alados de alimentação piscívora, ou seja, peixes. Espécies conhecidas dessa região são o Tapejara imperator, e o Maaradactylus kellneri.

Fóssil de Tapejara imperator
Fóssil de Maaradactylus kellneri

Como não poderia faltar de formação da Era Mesozoica, também são encontrados dinossauros na Formação Santana. Espécies conhecidas da região são o Mirischia asymmetrica, um terópode da família Compsognathidae, e o Santanaraptor placidus, um terópode do clado Tyrannosauroidea.
 
Reconstrução do Esqueleto de Mirischia asymmetrica a partir de seus Restos Fossilizados
Reconstrução do Esqueleto de Santanaraptor placidus a partir de seus Restos Fossilizados


Além deles, outras duas espécies de dinossauro, encontradas recentemente, têm sido objeto de discussão nos últimos meses. Essas são espécies são o Angaturama limai e o Irritador challengeri. Ambos são dinossauros da família Spinosauridae, grupo conhecido por terem hábito semiaquático e alimentação piscívora, coincidindo com o ambiente em que viveram e com o resto da fauna encontrada na região. Pesquisas recentes demonstram que, ao contrário do resto das espécies de dinossauros, essas duas espécies possuíam ossos de grande densidade, assim como ocorre com o seu primo egípcio, o Spinosaurus aegyptiacus, e outros animais de hábito semi-aquático, como os crocodilos, característica que, comprovadamente, auxilia no nado. 

 
Reconstrução do Esqueleto de Angaurama limai a partir de seus Restos Fossilizados




Reconstrução do Esqueleto de Irritator challengeri a partir de seus Restos Fossilizados

Além disso, essas duas espécies são consideradas sinônimos uma da outra, já que os fósseis do Angaturama aparentemente completam o esqueleto do Irritator, sendo o do Angaturama a ponta do focinha, e o Irritator, o resto do crânio. Com certeza eram indivíduos diferentes, que os ossos possuíam tamanho desproporcional quando comparados um com o outro, porém, talvez fossem a mesma espécies, e apenas foram catalogados ossos de partes diferentes, embora ainda existam cientistas que defendem que Angaturama é um gênero separado e não sinônimo de Irritator.

a
Comparação dos restos encontrados de Irritator challengeri e Angaturama limai

As descobertas paleontológicas da Formação Santana têm grande importância, primeiramente para a ciência brasileira que, neste momento, tem olhos de todo o mundo voltados para a nossa paleontologia e para a nossa contribuição para a ciência do mundo todo. Também, é importante para a compressão do Brasil pretérito, pois a biodiversidade dessa formação, e a morfologia dessas espécies animais é de suma importância para uma melhor compreensão do ambiente do Cretáceo Inferior do Nordeste Brasileiro. E, principalmente, é importante para como ferramenta de conscientização da população que vive na região. A conscientização da importância que a região, os fósseis e o trabalho dos paleontólogos têm para a ciência. A conscientização do papel que essa população tem na preservação desses vestígios fósseis. Infelizmente, ocorre intenso tráfico de fósseis nessa região, acarretando, muitas vezes, em danos desnecessários a esses vestígios fósseis e até mesmo perdendo de vez diversos outros que poderiam ser de grande importância para o avanço da paleontologia brasileira.

Por Maurício Morais



Fontes:
 
KELLNER, Alexander. Bacia do Araripe: Uma viagem ao passado. Disponível em: <https://bit.ly/2GzURbo/> Acesso em: 19 de maio de 2018

OLIVEIRA,Gustavo. Aspectos tafonômicos de Testudines da formação Santana (Cretáceo Inferior), Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Disponível em: <https://bit.ly/2k9VsHK> Acesso em: 19 de maio de 2018

VIANA, Maria. Estratigrafia e Paleontologia da Formação Santana, Cretáceo Inferior da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Disponível em: <https://bit.ly/2GBu5iG/> Acesso em: 19 de maio de 2018

DANTAS, José. Síntese da Geologia de Pernambuco. Disponível em: <https://bit.ly/2IWGanM> Acesso em: 19 de maio de 2018

DANTAS, José. Coluna Estratigráfica da Seqüência Fanerozóica no Estado de Pernambuco. Disponível em: <https://bit.ly/2Ix8u0A> Acesso em: 19 de maio de 2018

GRAPIÚNA, Anderson. EXPEDIÇÃO ARARIPE (Colecionando Fósseis). Disponível em: <https://bit.ly/2Ixoi3A> Acesso em: 20 de maio de 2018

CANAL COLECIONADORES DE OSSOS. Tesouros do Araripe: Os Fósseis e a Comunidade. Disponível em: <https://youtu.be/hFqaSgCnUEg> Acesso em: 20 de maio de 2018

CANAL COLECIONADORES DE OSSOS. Tesouros do Araripe II: No Tempo em que o Sertão era "Mar". Disponível em: <https://youtu.be/1_mrMy44RNg> Acesso em: 20 de maio de 2018

CANAL COLECIONADORES DE OSSOS. Espinossauro Brasileiro tinha hábito Semiaquático. Disponível em: <https://youtu.be/wYqe9j9jjOI> Acesso em: 20 de maio de 2018

ELIAS, Felipe Alves. Ilustração Paleontológica e Outros Temas. Disponível em: <https://bit.ly/2sXbKIL> Acesso em: 13 de junho de 2018

Comentários

Postagens mais visitadas