Âmbar

         Diferentes grupos de vegetais, dentre as gimnospermas e angiospermas, podem produzir substâncias resinosas que, quando entram em contato com o ar, sofrem polimerização e endurecem. Os vegetais produzem resinas como uma forma de proteção à ação de fungos, bactérias, insetos e outros organismos que possam causar danos em seus tecidos. Além da função de proteção, as resinas relacionam-se a aspectos fisiológicos das plantas, tais como um crescimento diferenciado dos tecidos vegetais, e mesmo a atração de insetos através dos terpenos voláteis. O produto da fossilização das resinas vegetais é o que denominamos de âmbar.

Âmbar

       O âmbar é resultado da transformação das resinas produzidas pelos vegetais que sofreram soterramento e efeitos de diagênese e catagênese, praticamente sem a alteração dos compostos químicos originais. O processo da modificação da resina em âmbar demanda consequentemente tempo, e o estágio intermediário desta modificação é conhecido como copal ou resina fóssil. A dureza, coloração e densidade do copal diferem nitidamente do âmbar, que possui idade de apenas alguns milhares de anos, enquanto o âmbar remonta milhões de anos. As modificações químicas que conduzem a polimerização das resinas, com a posterior formação do âmbar são designadas ambarização.

Da mesma forma que outros tipos de material orgânico, as características estruturais das resinas polimerizadas sofrem mudanças regulares ao longo do tempo geológico em resposta a diversos fatores. Essas mudanças progressivas, refletindo tanto a idade quanto a história deposicional, são consideradas coletivamente como maturação. Com o incremento da idade, a maturação de uma resina também aumentará, mas isso vai depender tanto das condições geológicas quanto da composição química da resina.

Em função da diversidade dos vegetais que secretam resinas, sua constituição química é bastante variada. Porém possuem, em todos os casos, terpenos em sua composição, que são os responsáveis pelos diferentes aromas exalados pelas resinas e ambares. Alguns terpenos são muito voláteis e se dissipam rapidamente no ar durante o processo de polimerização da resina, outros mantem-se como parte integrante da resina endurecida, mesmo no estágio de âmbar.

Deve ser esclarecido também que existem além das resinas (constituídas por terpenos e compostos fenólicos), diversos outros metabolitos provenientes das plantas que frequentemente são erroneamente associados a formação do âmbar. Todos eles diferem nitidamente em sua composição molecular, existindo, por exemplo: seivas brutas (solução aquosa contendo diversos sais minerais), e elaborada (constituída por carboidratos), gomas e mucilagens (formadas por polissacarídeos diversos), gorduras e graxas (formadas por ácidos graxos) e látex (constituído por uma mistura complexa que inclui terpenos, compostos fenólicos e carboidratos). De todos, os únicos que originam o âmbar e apresentam potencial de preservação no registro geológico são as resinas.

A produção de substancias resinosas pelos vegetais remonta ao Paleozoico, tendo sido detectada em gimnospermas do Carbonífero. Entretanto, é a partir dos Triássico que encontramos maior abundancia de âmbar no registro geológico.

As coníferas são normalmente consideradas como os únicos vegetais que originaram os ambares encontrados nas rochas sedimentares. Entretanto, as plantas que secretam quantidades significativas de resinas atualmente, são na maioria tropicais. Todos os gêneros de coníferas, primariamente de clima temperado, sintetizam resinas, mas somente as Pinaceae e Araucariaceae produzem quantidades apreciáveis. Nas áreas tropicais as angiospermas Leguminosae e Dipterocarpaceae são grandes produtoras. Outras que também sintetizam significativamente são Anacardiaceae, Burseraceae, Guttiferae, Styracaceae, Hamamelidaceae, Rubiaceae, Umbeliferae, Zygophyllaceae, Palmae, Liliaceae, Euphorbiaceae, Convolvulaceae e Compositae.

Pinaceae

Araucariaceae

  O âmbar funciona como um meio totalmente inerte, e por isso de grande importância na fossilização. Sua própria origem, como resina cicatrizante, que impede a oxidação e o ataque de bactérias, fungos e outros organismos aos tecidos vegetais o tornam um microambiente bastante especial para preservação de animais e vegetais que viveram há milhões de anos.

De acordo com pesquisas voltadas para estudos dessa resina fossilizada, a preservação de pequenos organismos, pelo fluido resinífero original, deve ter sido muito rápida, devido a virtual ausência de decomposição. Um fluido muito volátil na resina, talvez um terpeno, penetra rapidamente pelas paredes do corpo e dentro dos tecidos desses organismos, fixando-os. A água é extraída durante esse processo, já que há até mesmo a preservação do DNA, o que só pode ocorrer através da desidratação. Como a resina endurece rapidamente, ocorreria um fechamento hermético das inclusões. Assim, os detalhes anatômicos de alguns organismos, em especial insetos, podem ser analisados. Incluem-se até mesmo músculos, pelos, membranas e organelas celulares, viabilizando o conhecimento integral dos espécimes fossilizados.

Âmbar com inseto

Por: Laís Casqueiro, Ilanna Holanda, Luiza Braga, Rita de Kássia e Rodrigo Gonzalez

Referências:

CARVALHO, Ismar de Souza. Paleontologia: conceitos e métodos volume 1. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2010, p 261-271.